força do capitalismo digital colonizou os nossos corpos e modos de vida. À medida que o planeta é integrado à matriz de redes e dados, vemos uma intensificação da desigualdade e da precarização e a ascensão de forças antidemocráticas e fascistas.
A nossa esfera pública está ameaçada. O seu impulso algorítmico, controlado pelas empresas, naturaliza as normas hegemônicas de gênero, instrumentalizando a sociedade e a diversidade humana em prol do lucro.
O pacto social entre o capitalismo digital e o lar patriarcal permite uma mobilização implacável do trabalho não-remunerado e mal remunerado das mulheres e dos corpos feminizados. Nas cadeias de valor da economia extrativa de dados, o conhecimento incorporado e corporificado é suplantado pela inteligência despersonalizada das máquinas. Entretanto, o Estado de vigilância apropriou-se da proeza da tecnologia de classificar e excluir aqueles que considera indignos, disciplinando e desumanizando os corpos feminizados, assediando defensoras de direitos humanos, perseguindo migrantes e refugiadas, entre outres.
É urgente que nos libertemos do estrangulamento desta outra face do capitalismo: o reino do digital, e que adotemos uma visão feminista da justiça digital. Temos de reclamar os valores de uma nova socialidade que possa repolitizar os dados, ressignificar a inteligência vital e recriar arquiteturas digitais que permitam a coexistência em rede.